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Ficar em pé ou sentado muito tempo causa varizes?

Atualizado: 17 de jul. de 2022

É muito comum ouvirmos pessoas que permanecem longos períodos em pé no trabalho reclamarem de dores nas pernas e aparecimento de varizes. Mas será mesmo que quanto mais tempo permanecemos em pé, mais varizes nas pernas vamos ter? É sobre isso que vou falar nesse artigo.


Ficar muito tempo em pé pode ser um dos fatores de risco para o aparecimento das varizes nas pernas

Vendedores, professores, trabalhadores da limpeza e higiene, policiais, operários de fábricas, pintores, eletricistas, pedreiros e outros trabalhadores da construção civil, recepcionistas, balconistas, bartenders,  cirurgiões (eu também estou com vocês... os médicos não estão imunes...) são alguns exemplos de profissionais que permanecem grande parte de seu dia em pé. As pessoas com essas profissões frequentemente procuram o Cirurgião Vascular queixando-se de dores nas pernas e boa parte delas têm varizes evidentes.


A idéia de que ficar com as pernas para baixo, seja em pé ou sentado,  pode causar varizes tem uma explicação simples, baseada na física básica. Como eu expliquei no artigo "Por que eu tenho varizes?", as veias são os vasos responsáveis pelo retorno do sangue para o coração, e, no caso das pernas, esse retorno é feito contra a força da gravidade. Em outras palavras, o sangue tem que "subir" para o coração e a força da gravidade está "puxando-o" de volta para o pé. Além disso, ao passar pelos pequenos vasos capilares para entregar às células o oxigênio e o alimento necessários à sua sobrevivência, é como se as células sanguíneas perdessem o impulso gerado pelo coração devido ao atrito (como se elas tivessem que diminuir a velocidade para passar pelas ruas mais estreitas).


Trabalhos que exijam muitas horas em pé podem desencadear o aparecimento de varizes

Aí, você me pergunta: então, como é que o coitado do sangue consegue retornar para o coração e continuar circulando sendo que ele já está sem força nenhuma por ter passado pelos capilares e ainda por cima a gravidade está puxando ele para baixo?


Como a natureza é sábia e o corpo humano é uma máquina fantástica, temos vários mecanismos que ajudam o sangue a voltar, como a bomba muscular da panturilha, a esponja plantar, a pressão negativa exercida pelo tórax durante a expiração e o complexo mecanismo de válvulas existente no interior das veias. Eu falei mais sobre isso nos artigos: "Salto alto causa varizes?" e "Musculação causa varizes?".


Em poucas palavras, conforme andamos e movimentamos nossas pernas:


1) Pisamos no chão com os pés, esmagando as veias das plantas dos pés e ejetando o sangue de dentro delas para a perna


2) Contraímos a musculatura da panturrilha (batata-da-perna ou barriga-da-perna), esmagando as veias contra a fáscia muscular e ejetando o sangue para o tronco.


3) Respiramos mais profundamente e, ao expirar o ar, criamos uma pressão negativa no interior do nosso tórax que "suga"o sangue para dentro do coração.


4) O sangue é impedido de se mover na direção contrária pelas válvulas que existem no interior das veias, que são como portas que impedem seu retorno para o pé.


Um estudo muito antigo, publicado em 1949 (leia o artigo completo em inglês aqui), mostrou que a pressão do sangue nas veias da perna varia bastante conforme a posição que nos encontramos. Quando os indivíduos se encontravam em pé, a pressão exercida pela coluna de sangue era de 90 a 100 mmHg. Quando sentados, a pressão caia para 50 a 60 mmHg, porém permanecia bastante alta. Já quando os sujeitos deitavam, essa pressão caia para meros 10 mmHg. Ou seja, quando estamos deitados é muito mais fácil para o sangue retornar já que ele não tem uma pressão tão forte contra ele. Outro dado interessante que os pesquisadores encontraram foi que, durante uma caminhada, essa pressão também caia para cerca de 10 a 30 mmHg, muito próxima ao valor que encontraram no indivíduo em repouso.  Esse dado fala a favor de que o exercício físico é muito eficaz para melhorar o retorno venoso. O grande problema é que a pressão retornava para os 90 a 100 mmHg iniciais 20 a 30 segundos o término do exercício.

Depois de todas essas informações, fica fácil imaginar porque ficar em pé parado ou sentado pode prejudicar a circulação e levar ao aparecimento de varizes.


Para tentar provar que longos períodos em pé podem ocasionar o aparecimento de varizes, pesquisadores dinamarqueses fizeram um estudo que foi publicado no ano passado (2015) em uma importante revista científica inglesa (leia mais aqui). Esse estudo avaliou mais de 38 mil trabalhadores e mostrou que profissionais que permanecem longos períodos em pé têm maior risco de sofrer uma cirurgia para tratamento de varizes. Essa relação foi mais evidente nos trabalhadores do sexo masculino, em que, quanto maior o tempo que permaneciam em pé, maior a probabilidade de ser operado por varizes (relação exposição-risco). Essa relação não foi observada no grupo feminino, porém, as mulheres que trabalhavam em profissões que ficavam mais de 6 horas por dia em pé tinham um risco 2 vezes maior de serem submetidas a uma cirurgia de varizes, quando comparadas com trabalhadoras de outras atividades.


Ou seja, parece que ficar muito tempo em pé pode sim causar o aparecimento de varizes.


Claro que, para as varizes aparecerem, não basta apenas ficar com as pernas para baixo. Outros fatores de risco como predisposição familiar (genética), obesidade, idade, uso de hormônios femininos entre outros também contribuem para o seu aparecimento.

Sendo assim, se você possui um ou mais desses fatores, evite permanecer longos períodos em pé ou sentado com as pernas paradas!



E usar meias elásticas, previne o aparecimento de varizes nas pessoas que trabalham sentadas ou em pé? Não sabemos. Até agora nenhum estudo científico foi capaz de provar que o uso diário das meias elásticas de compressão previne o aparecimento de varizes.

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Sobre a autora


Dra. Juliana Puggina é médica cirurgiã vascular e escreve artigos informativos no blog 'Pernas pra que te quero'. Formada em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com residência médica em Cirurgia Vascular e Doutorado em Ciências (Ph.D.) pela Universidade de São Paulo (USP). Membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular e da American Vein & Lymphatic Society.


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