O Laser tem cada vez mais sido utilizado para o tratamento das varizes e telangiectasias (vasinhos), mas muita gente ainda tem dúvida a respeito da sua efetividade e em quais casos ele deve ser empregado. Neste artigo, vou explicar um pouco sobre essa tecnologia, as diferenças entre os tipos de laser existentes e esclarecer em que casos ele pode ser utilizado.
O Laser pode ser usado para tratar quase todos os estágios de varizes, desde o tratamento de vasinhos muito pequenos (telangiectasias) até para a ablação da veia safena, em pacientes que apresentam refluxo desta veia. Para cada caso, temos diferentes técnicas e diferentes tipo de aparelhos de laser que devem ser utilizados.
Especialmente nos casos em que a veia safena precisa ser tratada, o laser se mostra superior à cirurgia tradicional de safenectomia (saiba mais sobre esta cirurgia no post "Cirurgia para varizes: saiba como é feita passo-a-passo"). Atualmente, os consensos médicos americanos e europeus recomendam a escolha desta técnica para o tratamento dos pacientes, por ter risco menor de complicações associadas e diminuir o tempo de recuperação e retorno às atividades físicas e ao trabalho. Se quiser acessar o texto completo do principal consenso sobre tratamento de varizes, clique aqui.
O que é Laser e como ele funciona?
Laser é uma LUZ. Um luz especial de uma única cor e única direção. A palavra LASER na verdade é uma sigla em inglês : Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation, o que traduzido para o português quer dizer: amplificação da luz por emissão de radiação estimulada. Isso significa que o laser é uma radiação de luz produzida pelas vibrações das moléculas de um determinado material.
O laser é utilizado em diversos tipos de atividades, desde mira de armamentos até para tocar a música contida em um CD. Na Medicina tem sido empregado para a realização de procedimentos e cirurgias minimamente invasivos em diversas especialidades como oftalmologia, dermatologia, urologia e cirurgia vascular.
O tipo de laser a ser utilizado depende do alvo que queremos alcançar. Cada "cor" (ou comprimento de onda) da luz vai ser melhor absorvida por determinada célula ou tecido.
No caso do tratamento dos vasos, o que desejamos é que o laser seja absorvido pela hemoglobina, que é o pigmento que dá a cor avermelhada ao sangue, ou pela água que se encontra dentro das células que revestem os vasos sanguíneos (endotélio). Portanto, para esse fim, devemos utilizar uma determinada "cor"de luz laser que seja absorvida por esses alvos.
Quando a luz é absorvida pelo alvo (o sangue ou a parede do vaso) ela gera calor que danifica o vaso. Isso funciona bem parecido como quando saímos ao sol com uma roupa escura: sentimos muito calor porque o tecido escuro absorve mais a luz do sol. Isso não ocorre com uma roupa clara, que reflete os raios solares e impede que sejam transformados em calor.
Após ser danificado pela luz, o vaso não vai mais ser capaz de carregar o sangue e será destruído e absorvido pelo nosso sistema imunológico.
O objetivo do tratamento das varizes e vasinhos é eliminar os vasos que não estão funcionando adequadamente, para que o sangue possa retornar pelo restante das veias que estão saudáveis e funcionando de forma adequada. Sendo assim, o laser é uma ferramenta que utilizamos para destruir o vaso sem retirá-lo do lugar, evitando os cortes e cicatrizes da cirurgia tradicional, em que o vaso é retirado do organismo.
Laser para tratamento de vasinhos e microvarizes
Para o tratamento de telangiectasias (vasinhos) e veias reticulares ou microvarizes utilizamos o laser transdérmico. Esse tipo de laser não requer nenhum tipo de corte ou punção com agulha na pele: ele é aplicado na superfície e sua onda de luz viaja pela espessura da pele atingindo finalmente o vaso.
Para conseguir esse efeito de atingir somente o vaso sem danificar a pele que está no caminho é necessário regular os parâmetros do aparelho de forma adequada, evitando efeitos indesejáveis como queimaduras e manchas. Além da regulagem dos parâmetros, o resfriamento da pele com gelo ou ar gelado também é essencial para evitar que esta seja danificada.
O tipo de laser mais indicado para este tipo de tratamento é chamado Laser de neodímio-yttrium aluminum garnet no comprimento de onda (ou "cor") de 1064 nanometros, ou para os íntimos, Nd:YAG 1064nm.
Esse tipo de laser é aplicado em consultório e não necessita de repouso após.
O laser de Nd:YAG 1064 nm é também utilizado hoje em dia para o tratamento de microvarizes que há pouco tempo eram tratadas apenas através de microcirurgia. Hoje é possível tratar vasos azulados de até 3 mm de diâmetro com laser associado à aplicação de glicose, ambos com auxílio de resfriamento da pele com ar gelado. Essa técnica é conhecida por Cryolaser and Cryosclerotherapy, ou ClaCs, e foi descrita pelo cirurgião vascular brasileiro Dr. Kasuo Miyake. Mais detalhes sobre esta técnica podem ser lidos nesse artigo aqui.
Cirurgia para varizes com laser
Nos casos em que existem varizes maiores e insuficiência da veia safena, o laser também pode ser empregado. Porém, neste caso, o laser é utilizado durante a cirurgia, num procedimento que chamamos de termoablação da veia safena com laser.
Essa cirurgia não necessita de incisões na pele. É feita através de uma punção com uma agulha grossa da veia safena. Esta punção é guiada por um aparelho de ultrassom, que vai identificar a localização da veia safena.
Passagem da fibra ótica que transmite a luz do Laser no interior da veia safena
Por dentro desta agulha é passada uma fibra ótica até próximo da junção da veia safena com a veia femoral, na altura da virilha, tudo guiado pelo aparelho de ultrassom. Essa fibra ótica é conectada a um aparelho que produz a luz Laser, e tem a função de transmitir a luz para dentro da veia safena, causando uma "queimadura" na parede interna do vaso. Sendo assim, ao invés de retirarmos toda a veia, como é realizado na cirurgia convencional, cauterizamos a veia por dentro, levando ao fechamento de sua luz e sua inutilização.
Essa técnica é semelhante à termoablação da veia safena por radiofrequência que foi detalhada no artigo "Radiofrequência: uma alternativa à cirurgia tradicional de varizes". No caso da radiofrequência, ao invés de luz, utilizamos outro tipo de energia para cauterizar a veia: ondas de rádio de alta frequência.
O laser utilizado para esse tipo de procedimento é o laser de Diodo nos comprimentos de onda de 810, 980, 1470 e 1940 nm. Os tipos mais modernos (1470 e 1940 nm) tem uma absorção maior pela água presente na parede dos vasos, o que aumenta o dano da parede propriamente dita, aumentando também a segurança e eficiência do método.
Mas o laser é melhor do que o tratamento dos vasinhos com escleroterapia?
Os estudos realizados com aparelhos de laser mais antigos mostravam que a efetividade deste tratamento era inferior à escleroterapia convencional com injeções. Porém, com o avanço da tecnologia e descoberta de novos comprimentos de onda como o Nd:YAG 1064 nm, o resultado do laser passou a ser considerado semelhante ao da escleroterapia para o tratamento das telangiectasias (vasinhos).
Um estudo sobre o tema, publicado em 2015 (leia mais aqui), comparou o tratamento com laser Nd:YAG 1064nm e o tratamento com escleroterapia com espuma de polidocanol em 56 pacientes e não mostrou diferença significante entre os dois métodos.
Nenhum estudo até hoje mostrou superioridade do laser com relação à escleroterapia. Sendo assim, podemos escolher o método que for mais cômodo.
Geralmente, o laser é mais indicado em pessoas que tenham medo de agulha, alergia aos medicamentos esclerosantes ou que possuam veias muito pequenas, impossíveis de serem canuladas pela agulha. Nos outros casos, podemos escolher um ou outro sem prejuízo ao tratamento.
Outra indicação do uso de laser ocorre naqueles casos em que a escleroterapia convencional não foi capaz de eliminar os vasos alterados.
O tratamento das veias reticulares e nutrícias com laser ainda necessita de mais estudos científicos para comprovar sua efetividade, porém, pela experiência do dia-a-dia posso afirmar de que se trata de uma técnica promissora e deve substituir os demais métodos dentro de alguns anos.
E a cirurgia a laser, é melhor do que a cirurgia convencional?
Nesse ponto os cirurgiões vasculares entram em consenso: SIM, o tratamento das veias safenas com laser é melhor do que a retirada convencional da veia (safenectomia). Já comentei isso no início do texto. As vantagens do laser são menor tempo de recuperação e menor dor no pós operatório quando comparado com a cirurgia convencional. Além disso, ambas as técnicas tem a mesma efetividade: ou seja, tanto a cirurgia convencional quanto a cirurgia a laser são capazes de eliminar as varizes de forma semelhante.
No último consenso da sociedade americana de cirurgia vascular (Society for Vascular Surgery/ American Venous Forum), o tratamento da insuficiência de veia safena com cirurgia a laser foi considerado seguro, efetivo e é recomendado que seja este o tratamento de escolha, ao invés da cirurgia convencional (safenectomia). Em outras palavras, para quem tem insuficiência de veias safenas, o melhor tratamento existente hoje no mundo é a termoablação com laser. Além do laser, a mesma cirurgia de termoablação pode ser realizada pela técnica de radiofreqüência com a mesma qualidade e segurança.
Quais as complicações que podem ocorrer no tratamento dos vasinhos e varizes com laser?
Mesmo quando aplicado de forma correta, o laser pode causar complicações, assim como qualquer método de tratamento das varizes e vasinhos. O mais comum é o aparecimento de manchas acastanhadas. Essa complicação é mais comum em pacientes com pele morena e negra (ou bronzeadas) e quando há formação de coágulo dentro da veia tratada. Falei mais sobre este assunto no post "Manchas após tratamento de vasinhos e varizes: por que ocorrem e como tratar".
Outras complicações que podem ocorrer são queimaduras, aparecimento de pequenas úlceras e bolhas. Isso ocorre quando a energia utilizada foi maior do que a pele é capaz de suportar.
Para evitar complicações severas, procure realizar o procedimento com um profissional que conheça sobre a doença que está tratando e também conheça a fundo o tipo de laser que está utilizando. De preferência, realize o procedimento com um Cirurgião Vascular que seja habilitado para realizar esta técnica.
Resumo
O laser é uma grande arma no tratamento das varizes e vasinhos e pode ser utilizado de duas formas: laser transdérmico (que trata os vasinhos menores, até 3 mm) e o laser cirúrgico (que serve para tratar as varizes maiores incluindo a insuficiência das veias safenas).
O tratamento com laser transdérmico é feito no próprio consultório, não requer internação e nem repouso após. Pode ser realizado em associação com as injeções de escleroterapia ou sozinho, dependo do vaso a ser tratado, Sua efeitividade é semelhante à escleroterapia convencional (injeção de medicamentos nos vasinhos).
Já a cirurgia de varizes a laser é um procedimento operatório minimamente invasivo que se mostra superior à operação tradicional de retirada da veia safena. Leva a um período menor de repouso e menos dor no pós operatório.
Lembrando novamente que esses procedimentos devem ser realizados por um Cirurgião Vascular que tenha treinamento para realizar os procedimentos e operar os aparelhos de emissão de laser. Assim, a chance do tratamento dar certo, com o mínimo de complicações, é maior.
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Sobre a autora
Dra. Juliana Puggina é médica cirurgiã vascular e escreve artigos informativos no blog 'Pernas pra que te quero'. Formada em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com residência médica em Cirurgia Vascular e Doutorado em Ciências (Ph.D.) pela Universidade de São Paulo (USP). Membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular e da American Vein & Lymphatic Society.
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