Julho é mês de férias e muita gente vai aproveitar para viajar e passear. Por causa disso, algumas pessoas me perguntaram a respeito do risco de ter uma trombose durante as viagens de avião. Será que é possível morrer por conta de uma viagem mesmo que o avião não caia? Para responder essas dúvidas elaborei este post baseado nos principais artigos científicos disponíveis sobre o tema.
A crença de que as viagens de avião podem causar trombose venosa profunda, embolia pulmonar e até a morte é decorrente do fato de que em viagens de muitas horas, ficamos muito tempo sentados, sem mexer as pernas. Essa imobilidade prejudica o retorno do sangue venoso dos pés e pernas de volta para o coração. Como eu expliquei no artigo "Trombose venosa profunda: saiba como prevenir e tratar este problema", quando a velocidade do sangue diminui dentro das veias pode haver a formação de um coágulo de sangue. Esse coágulo leva a um entupimento da veia. Esse entupimento é o que os médicos chamam de trombose.
A trombose causa inchaço, dor e endurecimento da perna afetada. Porém, o problema pode ir além da perna... Um fragmento desse coágulo formado pode se soltar e ir parar nos pulmões. Nesse caso, temos uma condição chamada embolia pulmonar, que pode levar desde uma discreta dor e dificuldade ao respirar até a morte súbita.
Mas será que as horas que passamos sentados na poltrona do avião são suficientes para a formação desses coágulos?
Um estudo realizado com 8755 funcionários de companhias aéreas que trabalhavam em aeronaves observou, após 8 semanas de seguimento correspondendo a 102.429 horas de vôo, apenas 22 casos de trombose foram diagnosticados. Essa frequência é muito próxima à encontrada em pessoas que não trabalham no ar (saiba mais sobre esta pesquisa clicando aqui).
Um outro estudo, que analisou os resultados de outras 25 pesquisas realizadas anteriormente, mostrou que para pessoas normais, de baixo risco para trombose, a chance de ter um evento como este após uma viagem de avião é de 0,1 a 2,66 por milhão de viagens. Ou seja: o risco é muito baixo.
Porém, para as pessoas que tem fatores de risco para trombose, essa chance aumenta e muito: chega a 2,8% (1000 vezes maior), em vôos com duração de mais de 10 horas.
Esse estudo também observou que, quanto mais longa a viagem, maior o risco de ter trombose. O risco aumenta especialmente nas viagens acima de 8 horas. (leia o estudo na íntegra clicando aqui)
Mas quem são as pessoas que têm mais risco de ter trombose e devem tomar mais cuidado nas viagens longas?
- Pessoas que têm câncer (em tratamento ou não)
- Pessoas com mobilidade limitada: cadeirantes, deficientes físicos, idosos com demência
- Obesos
- Fumantes
- Gestantes e mulheres que acabaram de ter filhos (puérperas)
- Pessoas com varizes de grosso calibre
- Pessoas que realizaram cirurgia recentemente (principalmente se foi de grande porte)
- Pessoas com problemas nos fatores de coagulação (trombofilias)
Essas pessoas precisam ter atitudes durante as viagens longas para evitar que tenham uma trombose.
Aquele mesmo estudo que comentei acima, verificou que o uso de meias elásticas de compressão foi benéfico para a prevenção do problema. Em 1.237 pessoas que utilizaram a meia elástica houve 2 casos de trombose (0,2%). Já nos outros 1.245 que não usaram nada, foram encontradas 46 tromboses venosas (3,7%).
Portanto, para quem tem algum dos fatores de risco que eu citei acima vale a pena agir para diminuir o risco de ter uma trombose durante uma viagem de avião.
Previna-se da trombose em viagens longas
- Use meias elásticas de compressão
- Hidrate-se: tome muita água e evite as bebidas alcoólicas durante a viagem
- Mexa-se, não permaneça muito tempo sentado: a cada 30 minutos levante-se, ande pelo corredor, vá ao banheiro.
- Faça exercícios com os pés enquanto tiver sentado: movimente o pé para cima e para baixo para movimentar os músculos da panturrilha e mandar o sangue de volta para o coração!
- Evite calmantes e medicamentos para dormir: eles podem fazer com que você fique imóvel por muito tempo!
Se você já teve trombose, tromboembolismo pulmonar ou sabe que tem um problema da coagulação (trombofilia), converse com seu médico. Nesses casos há indicação de tomar medicação anticoagulante como prevenção a uma nova trombose (especialmente se a viagem é mais longa do que 8 horas).
Tudo isso que falei também vale para viagens longas de carro, ônibus, trem, barco e outros meios de transporte. Toda vez que ficamos muito tempo sentados e parados, o risco de ter uma trombose aumenta!
__________________________________
Sobre a autora
Dra. Juliana Puggina é médica cirurgiã vascular e escreve artigos informativos no blog 'Pernas pra que te quero'. Formada em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com residência médica em Cirurgia Vascular e Doutorado em Ciências (Ph.D.) pela Universidade de São Paulo (USP). Membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular e da American Vein & Lymphatic Society.
Agende uma Consulta!
Rua Dr. Sodré 122 cj. 64
Vila Nova Conceição - São Paulo/SP
Telefone 11 4118 0164 Whatsapp 11 99717 0557
Comments